Diante
da lei está um porteiro. Um homem do campo chega a esse porteiro e pede para
entrar na lei. Mas o porteiro diz que agora não pode permitir-lhe a entrada. O homem
do campo reflete e depois pergunta se então pode entrar mais tarde.
-
É possível – diz o porteiro. Mas agora não.
Uma
vez que a porta da lei continua como sempre aberta e o porteiro se põe de lado,
o homem se inclina para olhar o interior através da porta. Quando nota isso, o
porteiro ri e diz:
-
Se o atrai tanto, tente entrar apesar da minha proibição. Mas veja bem: eu sou
poderoso.
E sou apenas o último dos porteiros. De sala para sala, porém existem
porteiros CAD um mais poderoso que o outro. Nem mesmo eu posso suportar a
simples visão do terceiro.
O
homem do campo não esperava tais dificuldades; a lei deve ser acessível a todos
e a qualquer hora, pensa ele; agora no entanto, ao examinar mais de perto o
porteiro, com seu casaco de pele, o grande nariz pontudo, a longa barba tártara
rala e preta, ele decide que é melhor aguardar até receber a permissão da
entrada. (KAFKA. Franz. Um médico rural.
O guardião da lei. Trad. Modesto Carone. São Paulo: Companhia das Letras, 1999,
p.27)
Muitos
são os que batem à porta da lei e nela encontram um impeditivo para acessá-la.
Muitos
são os que buscam na lei a solução de problemas sociais, educacionais e de
comportamento. Muitos são os que buscam o respeito humano na lei.
Muitos
são os que encontram um porteiro irredutível e caprichoso que os impedem de se
colocar diante da lei. Enfim, nem todos são os homens do campo, contudo, todos
que são impedidos estão assentados na inocência do homem do campo que apenas
aceita um não e aguarda. Observando o seu cerceador.
Muitas
vezes os impeditivos surgem por força da informação deformada, a informação sem
clareza, a falta de paciência ou até de boa vontade para explicar os
procedimentos e regulamentos que antecedem o acesso à lei.
Muitos
devem estar pensando que estamos numa época que um simples clique pode trazer
toda a lei desejada, que o acesso é garantido, mas quem disse que ler o teor da
lei é ter acesso?
Muito
mais amplo é o acesso, e nem sempre o fato de mover uma ação corresponde ao
acesso desejado, e um fato econômico aqui é predominante.
Muitas
vezes encontramos ações movidas e processos mal conduzidos em que o
contraditório é esquecido e o devido processo legal esfacelado.
E,
assim, permanece-se sentado à porta esperando que seja admitido perante a lei.
Olinda Caetano Garcia
advogada e coach
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